sexta-feira, 5 de março de 2010

Má Vendedora

  Hoje li um livro de contos escrito por uma criança de nove anos, encadernado por sua mãe e vendido, pela mesma criança, para os pais, tios e avós. Lembrei de mim quando era pequena e poeta e escrevi o romance “O amor não tem espécie”, onde um dinossauro se apaixonava por uma mocinha morena e de olhos azuis. Quase um Romeu e Julieta da nossa geração. Na hora que vi o livro da criança só pude pensar: “Onde estava meu tino comercial?”


2009

quarta-feira, 3 de março de 2010

A Menina Responsável

Há quem fuja da responsabilidade. Por medo, preguiça ou falta de vontade.
Há quem aceite, à contragosto. Afinal, pessoas adultas precisam ser responsáveis.
Há também, aqueles que assumem e não cumprem.
O meu problema é outro.

Se alguem oferece uma responsabilidade, vou logo abraçando. Não consigo fugir. Mais que isso, não quero fugir.
Cada dia é uma nova. A situação pode estar chegando a níveis preocupantes. O que será isso?

Inquietude?
Energia Acumulada?
Inconsciente coletivo?
Tentativa de impressionar?
Fetiche?

Ninguém sabe. Minha psicologa já desistiu de explicar. Meu flatmate já concluiu que eu simplesmente gosto de sofrer. Meus pais aceitaram, mas convivem todos os dia com o medo de eu ter um infarto aos 20 anos.

E se toda essa gente não consegue entender, quem sou eu pra explicar?
Só digo uma coisa: Estou viciada em responsabilidades.

terça-feira, 2 de março de 2010

A Menina Resolvida

  Quando eu era pequena queria ser cientista. Tinha o “Laboratório Químico Juvenil” e um CD-ROM sobre “Como as coisas funcionam por dentro”. Passava meu tempo livre fazendo experimentos que, segundo minha tia, um dia ainda iriam gerar um elefante (Imagine só!).
Um dia percebi que o elefante estava distante e aí veio a fase professora de educação infantil. Queria cuidar de crianças, ensiná-las a escrever e até trocar fraldas, se necessário. Passava minhas tardes no trabalho da minha mãe “ajudando” a Tia do maternal a cuidar das crianças.
  Aí minha mãe me convenceu que era uma profissão ingrata. Dava trabalho, cansava e não tinha grandes perspectivas. Resolvi ser historiadora. Com minha paixão inveterada por barbudos intelectuais, não poderia achar um lugar melhor para mim. Na verdade na época os únicos barbudos intelectuais que eu era apaixonada eram meu pai e meu irmão. E isso bastava. Queria ser historiadora. Adorava feudalismo, iluminismo e, acima de tudo, revoluções.
  Aí meu pai me convenceu que historia não dava dinheiro. Pro meu irmão ele havia feito o mesmo discurso, mas não funcionou. Comigo funcionou pois foi acompanhado de aulas de uma professora de história horrível. Na sala ao lado da professora de história horrível estava uma professora de português encantadora. Foi tiro e queda: decidi ser escritora. Escrevia poesias, contos e histórias. Só não admitia uma coisa, que me dissessem sobre o que escrever. Mas minha professora encantadora soube driblar esse problema e a paixão pelas letras durou.
  Até que parei pra pensar que para ser escritora eu estudaria letras. Letras não dá muitas opções. Tenho um tio escritor que escreve e dá aulas, nada muito animador. Resolvi que pra ser escritora precisava de um curso mais funcional (Já havia aprendido a limitar meu sonhos, olhe só!). Decidi pelo jornalismo. Assim seria, enquanto eu não escrevesse meu grande livro, iria escrevendo para jornais. Poderia até mesmo ser correspondente internacional. Fui me encantando com as possibilidades do jornalismo. Passei muitos anos sem mudar de ideia, a não ser por alguns lapsos em que decidia ser bailarina.
  Aí chegou a hora de decidir. O jornalismo, sem mais nem porque ficou em segundo plano e resolvi que queria ser arquiteta. Me encantavam os detalhes, as formas. Queria desenhar prédios, casas e o mundo como bem entendesse. Até encarar as aulas de desenho e ver que sem talento não ia dar certo.
  Aí veio uma fase de questionamentos e eu percebi que só os questionamentos, em si, já me bastavam. Aí veio a psicologia. Queria entender a psique humana. Me encantava o inconsciente.
  Na verdade tudo me encantava. Mas eu precisava decidir. Era o ultimo dia pra inscrição e eu não sabia o que fazer. Perguntei a todos que via o que deveria fazer. As respostas variavam e as justificativas não iam muito fundo: “Você tem cara de jornalista!”, diziam. Até que uma amiga me disse cerca de 3 frases simples e profundas que me deram uma luz. Na parte da conversa que ainda lembro, ela me perguntou se eu perdia a noção do tempo quando escrevia. Disse que sim. E assim fui me inscrever em jornalismo.
  Comecei a faculdade. Já que já estava lá dentro, segui um conselho e pus na minha cabeça que era isso mesmo. Aí comecei a me visualizar jornalista. Virei uma pseudointelectual, especialista em generalidades. Gostava disso.
  Até que parti para uma viagem que me fez lembrar que eu precisava mudar o mundo. Descobri também que a única forma de mudar o mundo era através da educação. Está decidido, serei educadora. Mudarei o mundo.
  Na volta da viagem fui trabalhar com educação e vi que não era simples assim, que a educação, como minha mãe já havia dito, era trabalhosa, cansativa e de parcos resultados. Percebi que não conseguiria mudar o mundo.
  Por um tempo me refugiei nas artes. Percebi que cursava jornalismo mas não lia jornais, lia livros, não via noticiários, via filmes, não ouvia radiojornal,  ouvia música, não assistia palestras, ia a exposições. Pensei em ser atriz, cineasta, fotógrafa, pintora ou virar hippie e vender artesanato na rua. Mas nunca tive o empenho de sentar e produzir algo.
  Aí então decidi que não sei decidir.