terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Entrei pro crube!
É que um poeta que conheci me fez descobrir que não serve só pra dizer "Bom Diiiia, hoje acordei de bom humo-or", então resolvi fuçar e é bacana mesmo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Dream Job

Tenho tido um pesadelo recorrente. Não sei quão recorrente ele é, poís já faz um tempo que perdi a noção de sonho e realidade. Aos 16 anos sofri um trauma e a partir de lá passei a achar que a realidade é sonho e o sonho é realidade. Fazer o quê...
Mas a questão é que sonhei com isso, ou penso que sonhei, ao menos duas vezes. No sonho estou trabalhando. Meu local de trabalho é uma fábrica enorme, escura e gosmenta, digna do melhor filme de terror. Quer dizer, ao menos na aparência meu local de trabalho é esse, poís durante o sonho tenho plena consciencia de que estou no meu local de trabalho da vida real.
Nesse sonho, saio da minha área de trabalho, dentro da fábrica, e vou resolver um assunto com uma senhora, cujo nome não posso revelar, que vive em uma casinha ao lado da fábrica.
Bato na porta. Ela demora a atender. Está bem velinha, caminha com o auxilio de uma bengala.
-Olá, Dona. ...
-Oh, Marina, como você cresceu! Como estão os pais? Entre, entre!
Ela me recebe bem, é uma pessoa doce. Mas algo na casa dela me dá medo. Ela vive sozinha, mas a casa é enorme. Na verdade já estive naquela casa, uma vez, para um atendimento médico, quando estava doente e fui atendida no fim de semana na casa da minha médica. A senhora é a mãe da Dra., mas a Dra. não vive mais com ela.
Enfim, começo a tratar do assundo com a Dona., e começamos a nos acertar. Em paralelo o Sr. e a Sra., tramam contra mim dentro da fábrica. Ligam para o meu chefe e o avisam que eu estou armando uma trapaça com a Dona., que no auge dos seus 80 anos que derrubá-lo.
Recebo então, no meio de minhja conversa com Dona. uma ligação de meu chefe. Ele é uma pessoa calma, mas nesse dia está nervoso. Começo então a visualizar toda a armação do Sr. e da Sra.. Então enão é que eles simplesmente me olhassem torto, questionassem meus horarios de entrada e saída e o que eu mando para impressão. Além de tudo, eles tramam contra mim.
Ele são muito mais forte, é meu fim...
E agora?
E...
Acordei.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Welcome to Witmarsum

  Senhores passageiros da Viação Catarinense, com destino a São Caetano, São Vicente, Santos e São Bernardo do Campo, última chamada para embarque. 
  A voz abafada anunciou no alto-falante pala selar meu desespero. Deus pai, o que fazer? O ônibus vai estar no Graal quando chegar minha vez de retirar a passagem. 

  "Moço, posso passar na tua frente? Meu ônibus está saindo pra Santos...". Era a menina loira ao meu lado. Loira e mais esperta do que eu, porque  o homem careca a frente concordou. Com cara de desgosto, tanta gente havia passado na sua frente. Tive pena de incomodar mais uma vez o careca de bom coração. Esperei mais alguns minutos. Quando o desespero foi finalmente carimbado pelo silêncio dos alto-falantes, voltei meu sorriso mais simpático para uma outra vítima.
  "Moça, posso passar na tua frente? É que.. É que meu ônibus está saindo já. Mas, é... Desculpa e... Eu..."
  A moça riu da minha falta de jeito com a vida e disse que ainda tinha tempo. Eu pulei na frente do guichê e disse meu nome para a atendente. Ela imprimiu minha passagem com uma carranca milenar, enquanto eu batia a ponta do pé no chão e comia minha cuticula.
  Passagem nas mãos, lancei um três muito-obrigada-multi-direcionados e corri para a plataforma A4.  Passagem na mão do motorista, entrei ofegante no ônibus. Atordoada. Qual é meu nome mesmo? De onde venho? Para onde estou indo? Qual é a minha poltrona? Quatro,  poltrona quatro. 

  Ufa. Agora é relaxar e... Qual não é minha surpresa quando vejo que na poltrona  quatro está sentada uma senhora de cabelos brancos, um tanto rechonchuda e com um sorriso congelado no rosto.
  "Poltrona trreis?", pergunta, inflando ainda mais o sorriso. 
  Expliquei sem jeito que a minha poltrona era a quatro, aonde ela estava acomodada.
  "Non, non. Meu lugar é o da chanela mesmo, mas to esperrrando pra fala co motorista pra abrí a curchina, purque eu precissso ver o caminho e..."
  Respondi que tudo bem e fiquei plantada com minha mochila enorme no começo do corredor. Retomando o fôlego. Não por muito tempo, logo começaram as contorções, primeiro para deixar entrar um passageiro mais atrasado que eu e depois para deixar a senhora sair para falar com o motorista. Alguns malabarismos depois, sentei na minha poltrona quatro, me encolhi para deixar a senhora entrar de novo e respirei aliviada. Enfim a paz, pensei. Ledo engano.
  "O motorista disse que non pode abrrri a curchina."
  Perguntei por que.
  "Purrque atrapaia a visibilidade."
  Sugeri que pedisse para trocar com o rapaz do outro lado do corredor, que estava em uma área aonde cortinas abertas eram aceitas. 
  "Mas então pedimo pros dois trocar com nois, aí sentamos daquele lado."
  Minha alma curitibana não permitiu compreender a sugestão. Ela explicou. 
  "É. Aí, troca vucê com aquele moço e eu com esse."
  Entendi que queria sentar comigo, já estava apegada. Falava como se fosse minha velha conhecida, quiças minha avó.
  "E sentamo chunta!"
  Meu espírito curitibano congelou de medo, mas um sopro divino ou a simples incapacidade de contrariá-la me fez agir. Virei para os dois rapazes das poltronas um e dois, pedi licença e, antes que terminasse de explicar a situação da senhora, ele concordaram como quem quer evitar desgaste. 
  Com mais um malabarismo trocamos de lugar e sentamos na frente da cortina aberta. 

  Fim da odisséia. Me acomodei, peguei meu mp4 e me pus a assistir algum desenho animado psicodélico. Já estava a ponto de dançar com a trilha sonora quando reparo nos olhos arregalados da senhora.
  "Isso aí é televison?"
 Expliquei que era algo similar. Você colocava um filme dentro e podia assistir. Ela acenou e fez que entendeu. Voltei para meu belo filme até que noto que ela ainda está falando comigo. Tiro o fone.
  "Dá pra ver a nuvela?"
  Tentei explicar que não era bem uma televisão, mas ela logo interpretou que já havia passado o horário da novela e perguntou pelo globo repórter. Respirei fundo e falei que o apetrecho servia apenas para assistir filmes. 
  "Ah... Eu non vecho filme!"
  Perguntei por que. 
  "Pur caussa dos nerrrvo!"
  Os nervos. 
  "Hochi messmo, fui fiacha, deixei u marido sussinho, tife que adchianta trabaio e os nervo ficaro um horrror."
  Não entendi se entendi. Voltei ao filme. Quando o filme acabou, a senhora era a única pessoa acordada. E ela queria atenção.
  "Vucê sabi quanta hora é até Sun Bernarrrdo du Campo?"
  Eu não tinha ideia. Ela contou que já havia viajado pra lá, mas trinta anos antes. A estrada não tinha nem asfalto. E as divagações sobre o passado foram muitas. Por várias horas. Passou por vários lugares, reais ou fantasiosos, até que chegou a seu porto de origem. 
  "...purque lá na minha cidade tem um ponto de onibus na porta di casa!"
  Perguntei de onde vinha. 
  "Colônia de Witmarsum." 
  Então aquele sotaque era alemão! Abri um sorriso e expressei minha surpresa. 
  "Vuce cunhece?"
  Expliquei que só de nome e lenda. Ela fez questão de me fazer uma pintura de cada detalhe da pequena colônia. Contou que vivia com o marido, pois a filha havia se mudado para Alemanha. Com ele já não viajava mais. O sujeito, além de doente, tinha passado por uma acidente de transito. Alguma espécie de trauma.
  "Essas pessoa que non sabe dirrrichi e fais coissa errrada..."
  Mas, contou entusiasmada, ela já havia viajado sozinha para visitar a prole.
  "Viachei sussinha, mas foi tuto bem, tuto bem. Sussinha..."  
  Nessa altura já havia me dado conta que era uma daquelas pessoas que não precisam de resposta, feedback ou retorno. Basta para elas serem ouvidas. Ela falava, eu respondia monossílabos e ela estava satisfeita. Era, verdadeiramente, um ser encantador. Mas depois de seis horas eu não aguentava mais ser encantada, só queria mesmo dormir. Me concedeu dormir meia hora.
  "Moça, moça, acorda, chego im Santos!"
  Acordei sobressaltada, olhei pro lado e era a rodoviária de Itanhaem. Expliquei pra ela e dormi de novo. Isso se repetiu em outras 3 rodoviárias, até que vi que era mesmo a rodoviária de Santos. Me despedi da minha velha conhecida e lhe desejei boa viagem. Me senti aliviada, meu espirito meio-curitibano não pode suportar tanta conversa, preciso do meu espaço.

  Agora, se passaram algumas semanas. Estou em casa, em paz. Com meu silêncio. Cá estou com meu tão caro espaço. Tudo demarcado, privativo. E fico pensando, por onde será que anda minha amiga? Será que quer conversar? Quiças posso visitá-la em Witmarsum.