sábado, 7 de outubro de 2017

pra alimentar o imaginário dazmiga que curte seriado

entendedores entenderão, mas tem horas que eu me sinto a Hanna em Iowa. pros não entendedores de seriados americanos de menininha, vamos lá. nossa amiga Hanna (personagem-alter-ego da Lena Dunham em girls) certo dia da quarta temporada decide voltar a estudar. ela se enfia  em Iowa, que é um lugar no meio dos isteites que tem uma porrada de campo de milho. ela chega toda linda e faceira, mas vai se dando conta que é tá totalmente fora do seu elemento. 

minha cena favorita, como não podia deixar de ser, é quando ela vai numa festa em uma frat house, nosso equivalente de uma festa de alunicos de graduação. talvez algo como uma festa de arquitetura no DCE, só que menos criativa. ela tá tão deslocada e precisada de um descarrego que termina dançando sozinha bem loca no meio da sala. um descarrego digno, nada que eu não apoiaria ou faria. mas, pros que tão se perguntando, não cheguei nesse ponto ainda. mas como ela, não tenho muita vida social, as vezes me sinto alienígena no meio dos coleguinhas e frequentemente dou com a cara na parede. essa última frase pode ser lida no sentido figurativo ou real, vide o galo que fiz esses dias. 

mas eu também tenho meu momentos Rory (a menina fofinha do Gilmore Girls). e não é só porque aqui também tem uma estação de cereais no refeitório (a propósito, bem impressionante, um corredor com 23 variedades de sucrilhos). mas eu constantemente me pego pensando que estou no lugar mais maravilhoso do mundo. mesmo. me impressiono pelo menos uma vez por semana com alguma discussão que acompanho. me pego pensando gente-comé-que-não-vim-presse-lugar-antes ou olha-esse-povo-diverso-discutindo-diversidade-que-lindo ou ainda que-show-as-pessoas-fazem-perguntas-pra-saber-a-resposta-e-não-pra-mostrar-erudição. eu fico deslumbrada que nem a Rory em Yale, quando se dá conta que foi parar num mundo mágico do aprendizado. 

e assim, sabe... com certa frequência o aprendizado também vem acompanhado de comida. é, comida-de-graça - essa semana eu tive sete refeições gratuitas em palestras/eventos. ontem inclusive eu comi aperitivos de camarão no bafo com bacon tomando vinho tinto no meio doz dotor tudo. no mesmo evento em que eu ouvi sobre atendimento de saúde para crianças trans e sobre como o uso das estatísticas falseia a visão social sobre a população negra. tipo, Rutgers sua linda, para de ser perfeita.  

fora isso, teve o dia que eu fui atendida por uma canadense maravilhosa que me ajudou a analisar opções de bolsas para aplicar e tentar ficar nessa universidade linda. ou quando um rapaz latino me resolveu 5 problemas de software diferentes só porque eu fui até o setor dele com meu computadorzinho embaixo do braço e pedi ajuda. e também teve o dia que o gerente da academia da universidade me mostrou as instalações e me explicou sobre as aulas de zumba, pilates, yoga e a porra toda que eu posso fazer. ou ainda o auge de todos os momentos-Rory: o dia que eu fui até a biblioteca e descobri dois corredores inteiros de literatura em português. e o funcionário simpático me disse que eu podia emprestar quantos livros quisesse e ficar com eles até o fim do semestre. 

pois sim, meu coração explode toda vez que eu descubro o que posso fazer de graça aqui dentro. quer dizer, de graça não. pagando uma quantia, absurda para qualquer brasileiro, e se tornando aluna desse instituição. sim, nada é de graça nesse país - mas isso é conversa para outro dia. 

(eu com fone de ouvido respondendo: você troca o R.U. por 1,90 por um refeitório com todas as comidas possíveis por 11 doleta? você troca a biblioteca da reitoria de graça...)

por ora, o que posso dizer é: tive meus momentos alienígenas que-que-eu-to-fazendo-aqui-socorro. mas, por enquanto, os momentos garotinha deslumbrada na (univer)cidade grande tão ganhando de longe. 









quinta-feira, 5 de outubro de 2017

eu e meu ingreis

gente, já falei que ser gringa cansa. mas vou falar pra vocês: também dá uma vergonha às vezes. aquela sensaçãozinha que eu tive, na primeira vez que tentei comprar um sanduíche e não entendi nada nem me fiz entendida? mal sabia: é a coisa mais corriqueira na minha vida. 

logo eu, que falo mais que o homem da cobra e tenho opinião pra tudo, de repente deixei de ser entendida. quer dizer, não é uma torre de babel desatada, as pessoas costumam me entender. e é justamente esse o problema. explico...

eu tenho um sotaquinho brasileiro bem discreto. veja, não é uma escolha que eu fiz, de disfarçar meu brasileirismo. minha roomate turca fala um inglês impecável com sotaque turco, e é uma coisa linda de se ouvir. queria eu ter um inglês correto com um sotaque só meu. mas meu cérebro aprende línguas mimetizando. eu tenho o instinto de imitar o sotaque alheio. nesse caso, o sotaque de todos os personagens de filmes e seriados americanos que eu vi na vida, mais o de uma roomate californiana.

pois bem, com essa amálgama confusa, as pessoas me ouvem e sabem que eu não nasci aqui. mas não percebem ou não se lembram o tempo todo que eu acabei de chegar. e aí quando eu troco os pés pelas mãos e falo algo estúpido, elas simplesmente sorriem amarelo. 

esses dias, por exemplo, estou conversando com um colega que vem de patins para a faculdade. eu quero dizer que deve ser um exercício bom para o equilíbrio e fortalecimento do core, colocando minha mão no umbigo e achando que fui entendida. todos os coleguinhas na roda sorriem amarelo. depois me dou conta que algum embaralho na minha fala deu a entender que devia ser bom pra perder a barriga que meu coleguinha tinha. 

e o mais chato desse tipo de gafe é que quando você percebe, já não dá pra corrigir porque o assunto passou. ou a gafe é tão absurda que as pessoas pergunta QUE e você explica, mas aí você já virou um avestruz e enfiou a cabeça na terra. tipo quando eu dei a entender que pessoas brancas tem a responsabilidade de ter privilégios (?????). 

pois sim, é o caos. e se isso é complicado, imagina aquelas situações que você quer parecer descolado. prefiro nem pensar. 

e enquanto não penso, tento me concentrar em ouvir mais e falar menos. quem me conhece sabe que é um ótimo exercício pra mim em qualquer língua. mas em inglês não tem sido uma opção: vou ter que ficar quieta pra, quando falar, fazer mais sentido. 

ao mesmo tempo, fico falando comigo mesma dentro da minha cabeça em inglês. quer dizer, venho fazendo isso como uma espécie de exercício desde o primeiro dia. mas aos poucos, alguns pensamentos estão fluindo naturalmente nessa língua enrolada. várias palavras já fazem mais sentido em inglês, como sempre me acontece quando eu mergulho em outra língua. e, como já estou cheia de preocupações, meus delírios/pensamentos semi-despertos na insônia já são em inglês. 

mas, o melhor de tudo aconteceu essa noite. quer dizer, eu acho que aconteceu. só sei que acordei com a lembrança de uma policial, interpretada pela mesma a mulher que passa meu cartão no refeitório na hora do almoço. a que me corta quando eu explico como funciona meu cartão, dizendo que se lembra de mim, sem nunca deixar claro se isso é uma expressão de simpatia ou de desconfiança. no meu sonho, ela me revistava e depois me entregava lencinhos umedecidos para clean your tush.

e eu não quero nem saber o que meu amigo Freud tem pra dizer sobre isso. apenas fico satisfeita em saber que, pelo jeito, estou sonhando em inglês.