domingo, 3 de novembro de 2013

o bonito que guardo em mim

  Ok. Admito. Já vivi paixões lancinantes e/ou agradáveis. Já bebi um tiquinho do doce e do amargo. Já tive amores com gosto de açúcar mascavo. O velho papo. Dito isto, posso assumir que já vivi a sensação macia de just-to-love-and-be-loved-in-return. Também já senti a aspereza de amar sem ser amada, quem nunca? E da mesma forma já tive admiradores não correspondidos (malucos ou nem tanto). E, convenhamos, sem falsa modéstia: todo mundo gosta de ouvir declarações, ainda que não esteja interessado no amor que vem de brinde, né?
  Por isso, guardo bem guardado as bonitezas que já ouvi. Ainda que em muitos casos me interessem apenas as palavras. Ainda que, em outros, o tempo as transfigure em feiura. Mas, de todos os homens que já me disseram coisas belas, poderia facilmente escolher  um único para enquadrar as palavras e pendurar na minha parede. Porque elas são as mais bonitas que já me dedicaram. Porque ele me concede o amor mais profundo e altruísta que alguém é capaz de dar. Porque ele o faz insistentemente, semanalmente, e pouco se importa se não lhe dou retorno. Porque ele o faz insistentemente a mais de vinte anos. 
  Sim, vocês terão de me desculpar, mas meu grande amor é um velho barrigudo, de barba branca, com um temperamento dos infernos. Ainda que as vezes eu não tenha paciência de ouvi-lo. Ainda que as vezes tenhamos vontade de nos esganar mutuamente. Mas, quando todo o resto falha, sei muito bem que segue piscando no horizonte o amor que ele me dedica. 
  Sei disso, não nego. Sei que posso maltratá-lo e até gritar com ele, que absurdo, e ele vai seguir me amando. Sei que sempre vou ser eu, palavras dele, que dou as cores para o seu filme. Sei que diante dele sempre serei a menina mais bonita do jardim de infância. 

  É claro, não posso deixar de mencionar, existem teses apontando ser isso uma simples forma de amor próprio. Afinal, segundo outro membro da prole, sou eu a versão dele "de sainha". Com a coluna em S, a cabeça grande, o temperamento dos infernos, a voz de trovão, a fome devastadora e o tom professoral. Daí também Freud explicaria minha eterna implicância com o sujeito.

  Mas, psicanálises a parte, sei bem que nunca serei presenteada com tamanha boniteza por mais ninguém. Que no meio do inferno que constantemente armamos um para o outro, respira um amor profundo. Respira com a mais tranquila certeza de que vai durar pra sempre. Vai me iluminar pra sempre. Porque não é chama, é farol. 

3 comentários:

serfeld disse...

Princesa, acho que teu pai ainda não leu,mas vai chorar que nem um bezerrinho desmamado. Não podia ter homenagem mais linda. Vc é foda, baixinha!

serfeld disse...

Amor da minha vida. É o único caso em que tua mãe vai ler uma declaração de amor para mim proveniente de uma bela mulher e vai até gostar e ficar me esperando, para que eu acorde e leia. Emoção pura, compartilhada e amor que ela sabe que eu tenho por você e que é correspondido. Love. Eu não chorei tanto, só umas 500 lágrimas. beijocas. Papitão e Zeide Barba (sem Barba)

Feldman disse...

São dois lindinhos.