quarta-feira, 1 de julho de 2009

Jardinagem Libertária dá nova cara às intervenções urbanas

Grupo que planta árvores e ocupa canteiros obsoletos com jardins tenta mostrar que intervenção urbana vai além de pichação

  Com as pichações e grafites já estamos acostumados. Os lambe-lambes, pôsteres artísticos colados em espaços públicos, também não nos são estranhos. Mas o uso da jardinagem para intervir no ambiente urbano é novidade para a grande maioria. O movimento conhecido no mundo como “Jardinagem de Guerrilha” já existe desde 1973, mas está se popularizando nos últimos anos, atuando em Curitiba com o nome de “Jardinagem Libertária”. A jardinagem consiste basicamente no plantio de arvores e jardins e na distribuição de mudas. Um dos principais objetivos é conscientizar a população da importância de termos uma postura ativa em relação ao ambiente que nos cerca. A iniciativa é do grupo Interlux, responsável também por diversas outras atividades envolvendo arte, meio-ambiente e política.

  Segundo Jorge Brand, membro do Interlux, o grupo surgiu em 2002 com a proposta de trabalhar as artes tendo como foco a cidade. Hoje em dia conta com 10 dez membros e atua em diferentes áreas. Participam de eventos como a bicicletada, organizam palestras, colam lambe-lambes com mensagens políticas e plantam árvores e jardins. Foram responsáveis, também, pela primeira ciclo-faixa de Curitiba. Essa iniciativa, porem, foi frustrada, pois não havia autorização da prefeiturao governo. A pintura da ciclo-faixa na Rua Augusto Stresser foi considerada crime ambiental e alguns membros do grupo foram processados. Ainda assim, o grupo segue suas atividades que, para Brand tem um objetivo que vai além da arte. “Não é possível enquadrar as ações em uma coisa só. O grupo tem um caráter artístico, mas também
é uma forma de contestação e provocação”, afirma.

  Grande parte das iniciativas do Interlux se enquadra no conceito de intervenção urbana. Esse conceito, porém, é bastante amplo. Segundo o site http://www.intervencaourbana.org/, “Intervenção Urbana é o termo utilizado para designar os movimentos artísticos relacionados às intervenções visuais realizadas em espaços públicos”. Dessa forma, as intervenções urbanas incluem trabalhos de cunhos muito variados. “O cara que vai lá e picha o teatro Guairaá com a palavra ‘nerd’ é colocado no mesmo lugar que nós que fazemos um trecho experimental da ciclo-faixa no Dia Mundial Sem Carro”, afirma André Mendes, outro membro do grupo Interlux. Para ele, a pichação, além de destruir prédios históricos e poluir a cidade, denigre a imagem das intervenções urbanas. Mendes acredita cada intervenção deve ser analisada no seu contexto. “Não é só porque um desenho está na rua e não no museu que ele deixa de ser arte”, defende.

E a legalidade?


  Para Elisabeth Prosser, professora de história da arte e especialista em meio ambiente urbano, a questão da legalidade é algo muito sério. “A lei é feita por uma pequena fatia da sociedade que quer que a cidade esteja de uma determinada maneira. Porém, a cidade é muito maior que essa fatia”, afirma. Segundo Elisabeth, cabe analisar a questão de outros pontos de vista que não o da lei. “Muitos grafiteiros são presos e colocados na mesma cela que assassinos, traficantes e estupradores, são torturados e maltratados”. Segundo ela a legislação deveria ser revista. “Devemos perceber que todas as intervenções urbanas têm uma razão, mesmo que seja uma simples rabisco”, acrescenta.

  Em relação ao grupo Interlux, Elisabeth afirma que é um grupo de artistas que usa a rua para fazer uma conscientização com a sociedade. “Eles plantam nos canteiros públicos e preferencialmente árvores frutíferas, o que é uma iniciativa genial”. Entretanto, coloca Elisabeth, eles acabam ficando na fronteira que separa a legalidade da ilegalidade. “Plantar em canteiros públicos, apesar de ser uma iniciativa política, social e ecologicamente correta em todos os sentidos, ainda é considerada crime”, lembra Elisabeth.
  Para Jorge Brand, devemos lembrar que a rua é um espaço público e criar uma relação ativa com ele só pode ser algo positivo. “A arte urbana tem como objetivo chamar a atenção. As pessoas estão tão treinadas a ver as coisas só de um jeito e o artista tem a capacidade de reajustar as coisas e gerar um novo olhar”, afirma Brand. Para ele, temos que ver a rua como um espaço de convivência e diálogo, ao invés de nos fecharmos, como vem acontecendo com a sociedade como um todo. André Mendes concorda com o colega e afirma que quanto maiores as cidades, mais as pessoas se tornam anônimas e fechadas. “As pessoas mal se olham na rua”, afirma. Para ele, o objetivo da intervenção urbana é fazer olhar de uma forma diferente para algo que você vê sempre mas não se dá conta. “Queremos que as pessoas tenham uma relação com a cidade como se ela fosse o seu quintal, que cuidem da sua rua”, conclui.

[Matéria produzida para uma disciplina da faculdade de Jornalismo]

Um comentário:

Ariel Feldmans disse...

Bebê, tu és uma safada!
Devia é pegar a Joana, a bicicleta que eu te dei, e sair andando por aí. Você ia ficar um charme desfilando de Joana.
Safada! Apoia os Bikers Loucos de Curitiba e deixa a Joana encostada.
Mas eu adorei aquela plaqueta que você me deu, dizendo que a bike é movida a arroz e feijão. Só tem um problema: não estou comendo mais feijão. Eles geram gazes...