quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Vendem-se sonhos em conserva

No último feriado, a caminho da praia, parei em um supermercado de uma cidadezinha litorânea. Fui ao setor de carnes e pedi carne picadinha, para strogonoff. Qual não foi minha surpresa quando vi que o rapaz estava picando, na hora, com sua faquinha, meu um quilo de carne. Pensei em dizer que não precisava, mas ele estava a todo vapor. Em cerca de 20 minutos recebi minha carne picada. Após cerca de 24 horas, preparei um yakissoba. Cerca de 50 segundos depois de pronto o yakissoba, devorei-o juntamente com outros 4 gulosos. O tempero estava bom, mas a carne me veio com sabor de revelação. Seguia me lembrando da descoberta que fizera a 24 horas, 20 minutos e 50 segundos. "Carne picada não nasce picada", pensava eu.

Alguns dias depois, no supermercado, iniciei um estudo antropológico que se intitula "A supremacia da lata". A lata, em si, não é o elemento chave. Não podemos, entretanto, negar, que a lata é peculiar. Não posso negar que feijoada em lata é no minimo algo sociologicamente significativo. A historiografia não podia prever isso, mas aconteceu. O mundo foi enlatado. Ou empacotado. Nós não ficamos muito pra trás. Vivemos numa grande lata de conserva sentimental. Nossas frustrações são em pó e nossos salários são solúveis. E, com isso, nem nos damos conta da supremacia da lata. Entramos na onda.

No começo eu passava o café toda manhã. Hoje tomo Café Soluvel Granulado. Mais fácil. À principio, cortava tomate na hora do almoço. Agora busco os tomates cereja. Sabor e saúde ao alcance da mão. Mesmo o brócoli, a expressão mais pura da naturalidade, vem cortado em um bandeja, ao lado de sua amiga couve flor. Marx bem disse que somos alienados do produto de nosso trabalho. Agora, até mesmo do produto gastronômico somos alienados.

Essa semana, por exemplo, quis tomar sopa. Comprei um belo pacote rechado de sopa em pó. O sabor frango desfiado com requeijão, como era de se esperar, muito me apeteceu. Em nenhum momento me questionei qual o princípio fisico-quimico que produz frango desfiado em pó. Em nenhum momento! Só fui me dar conta do absurdo dessa preposição quando, na sopa,encontrei 3 fiapos que lembravam frango desfiado e tinham o tamanho de uma bactéria. Fui alienada do meu frango desfiado. Nesse momento, pensei seriamente em escrever um manifesto do Partido Gastronômico. Mas não me creio apta.

Segui, portanto, o estudo. Descobri, finalmente, que maçãs pequenas e empacotadas tem gosto amargo. As cenouras descascadas e enfileiradas estragam mais rápido. Se isso acontece com as frutas e legumes, o que será que acontece conosco?

2 comentários:

Unknown disse...

eu juro que eu vou comprar os direitos autorais do teu blog e monta uma peça... aaah se vou...

Mari disse...

huauhahuahuahuhauhuahuauahuhua
vc e genial
meu orgulho, moçinha!