quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Belo belo belo, tenho tudo quanto quero.

  Sempre creditei meu amor pela arte a minha delicada mãezinha. De fato, a moça do cabelo de macarrão sempre me levou aos museus e me apresentou as belezas de Monet, Degas, Renoir e outros nomes que não se falam como se lê. Talvez até, de maneira inconsciente, me ensinou aquele diletantismo delicado de quem vai ao museu: o olhar de perto, o olhar de longe, o coçar o queixo e com uma expressão facial demonstrar seu juízo sobre a obra. Sem dúvida a moça do cabelo de macarrão, com seus programas culturais, me alfabetizou nesse mundo. 
  Orgulhosa, as vezes me questionava: como, da fórmula [mesma barriga + mesmo capital cultural], saíram dois seres tão distintos como eu e o ogro do meu irmão? "Pfffff... Isso é arte? Eu também faço um desses, ó!", dizia, diante de obras contemporâneas. E eu com minha coçadinha no queixo mantinha o silêncio e balançava minha cabeça, desesperançada. 
  Enfim, aceitei as discrepâncias do destino. Aceitei ser irmã de um ogro. Segui visitando meus museus, e ele seguiu vendo seus jogos de futebol. Mas a verdade é que somente muito mais tarde eu fui perceber o que realmente era apreciar a beleza da arte. E quando percebi vi que, certamente, a alfabetização com a moça do cabelo de macarrão foi essencial. Só que me dei conta que, mais do que conhecer nomes e escolas, viver a arte era sentir. Suspender o olhar cotidiano. "Deixar que as coisas se aproximem de nós", como já disse o meste. E aí, pasmem, me lembrei do meu querido irmão-ogro. 
  Ogro que é, nunca se sentiu bem em museus ou em quaisquer lugares refinados. Mas tinha a estranha mania de me levar para dar a volta na quadra e ver a lua. Quem sabe andar até o fim da rua para ver onde terminava. Ou então, inventar histórias de animais voadores e mágico, simplesmente olhando nossa gatinha de estimação. 
  Os sinais sempre estiveram ali. Mas somente hoje fui ver - quando cheguei sem querer ao fim de nossa rua - que, na verdade, meu caro irmão-ogro tem lá sua delicadeza. E se a moça de cabelo de macarrão me familiarizou com os museus, ele foi quem me ensinou a fazer da vida uma imensa experiência estética. A cada esquina, a cada lua cheia, encontrar o belo. Por mais ogro que seja, sem nem perceber. 

2 comentários:

Nona rostagno disse...

A vida é uma grande experiência estética.....nela acontecem os deslumbramentos, as emocões, as delicadezas, os encantos e desencantos.......
Muita gente nunca foi a museus e nem quer ir......mas lvive uma vida cheia de experências, olhando-a de perto, de longe, de todos os lados. Deus nos deu sentidos para experimentarmos tudo. E tem horas que acordamos para essas questões e agradecemos por termos a oportunidade de vivenciá-las. Parabéns pelo seu profundo olhar.........!

Feldman disse...

De fato, Nona! O mundo pode ser muitas coisas, depende de como o encaramos.
Obrigada pelo seu olhar, cá por essas bandas.