sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Ele & Ela

[Tirado de algum canto do fundo do baú de rascunhos desse blog, escrito não sei quando.]

Ela para, ela olha, ela pensa. Olha para o homenzinho verde e pensa se deveria atravessar a rua. Pensa se devia voltar pro mercado e comprar mais uma caixa de leite. Olha o céu e pensa se deveria ter saído de guarda chuva.


Ele anda, não nota, não se importa. Só anda. Não percebe que vestiu a camiseta do avesso. Não lembra que hoje é aniversário de sua tia. Nem nota que o homenzinho verde deu lugar a outro vermelho. Nem mesmo percebe que o carro azul teve que frear bruscamente pra não atropelá-lo. Não repara que a menina de vermelho do outro lado da rua está olhando para ele.


Ela olha, ela pensa: quem esse menino acha que é para atravessar a rua sem olhar? Deve ser um belo de um irresponsável. Ela pensa e franze a testa. "Vai ficar enrugada cedo", sua mãe dizia. Ainda assim, é mais forte que ela.


Ele anda. Atravessa a canaleta e a outra pista. Tudo isso sem olhar o que acontece a sua volta. O pé no chão, a cabeça na lua.


Ela continua parada no mesmo lugar. Pensando, tentando decidir se vai ou se fica. Pensando se não devia visitar sua avó, que vive tão sozinha.


Ele termina de atravessar as 3 pistas e, sem notar o meio fio, tropeça. Tropeça e cai. Seu ombro bate no da menina de vermelho.


Ela se desequilibra. Derruba a pasta, por pouco não derruba o casaco. Abre a boca para brigar com o menino distraído que trombou nela. "Escuta aqui..."


Ele levanta o rosto, olha, abre um sorriso.


Ela emudece.


"Me desculpa, moça! Estava um pouco distraído..."


Ela, muda.


Ele levanta a pasta dela, entrega para a moça de vermelho.


Ela pega a pasta das mão dos menino distraído. Dá um sorriso amarelo, que devia demonstrar agradecimento, e sai andando.


Ele fica parado. Fica olhando a menina de vermelho se afastar, atrapalhada. Repara que ela olha pra todos os lados.


Ela anda. Tenta pensar nos compromisso dela para aquele dia. "Quarta feira é um dia longo, preciso ir buscar os...". Mas fica pensando naquele sorriso. O menino devia ser um baita irresponsável. Mas que tinha uma belo sorriso, tinha.


Ele continua olhando. Nem pensa no horário. Nem lembra que devia chegar no trabalho em cinco minutos.


Ela para, entra na farmácia. Lembra que precisava comprar um remédio pra mãe.


Ele vai até a farmácia.


Ela vê ele entrando. Fica nervosa. Não gosta de imprevistos.


Ele anda na direção dela. "Escuta, moça, não quer ir tomar um café?"


"É, é... Não sei. É, eu tenho que fazer um monte de coisa. Tenho hora no médico e..."


"...?"

"...!"

...


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